quinta-feira, 20 de maio de 2010

cinema e literatura

bem...se não sabem, sou professor, há 20 anos, um singelo trocador de conhecimento! Nunca por acaso, da seara das letras, mais do que óbvio! Então me ocorreu de ao cel com o John, meu parceiro de cinema e de altíssimos papos, trocar uns finos sobre filmes que nasceram de livros. Rimos como sempre, pois é pontual surgirem as deliciosas bobagens...Tenho patias, confesso! E toda vez que falo com o John, sinto-me (sentimo-nos, por certo!) necessidade de fazer listas, coisa de transtorno obessivo compulsivo, nada demais!

agora posso fazer ums lista dos dez filmes cujos roteiros nasceram de obras literárias. Mas somente listarei os que eu, debilitadamente, recupero em minha cansada lembrança...Logo de sopetão, vem-me à recordação um filme nacional, uau, o primeiro que cito neste espaço, embora ame vários, "Amor e cia." (1999), de Helvécio Raton, baseadoi em uma deliciosa novela de Eça de Queiroz, oa película conta uma história de adultério no século XIX, em São João Del Rey, o triângulo é formado por Marco Nanini, Patrícia Pillar e Alexandre Borges, ótimos todos, com uma tragicomicidade, os três nos brindam com interpretações precisas. A adaptação das novela é 99% fiel, a reconstituição de época, corretíssima. Enfim, um filme adaptado de um escritor clássico e de categoria! A trajetória de ups & downs de Nanini é de se reverenciar!


outra adaptação de livros que muito me comove é de um drama de Tenesee Williams,"A Streetcar Named Desire" (1851), de Elia Kazan, são siamesas as obras, falo da literária e da fílmica. Além de Vivien Leigh ser uma das mais poderosas atrizes de uma constelação, somada ao Brando, a química é avassaladora. A adaptação da decadência de Blanche Du Bois e o erotismo sulista, calorento, aprisionante são ingredientes para uma excepcional adaptação. A decadência moral, de todos os valores sacramentados e hipócritas, nossa, o filme é um desbunde! ah! o Karl Malden é tão grande ator, tão sutil em sua interpretação de um bobalhão platônico que dá dó na gente, Filmaralhaço!


bem, não cuspam em mim, please, mas a adaptação de John Huston para o maior clássico oceânico do mundo é de ser adorada em altar, a obra criteriosa, minuciosa, elegante de Herman Melville rende e sempre renderá belos filmes, mas Huston com um Capitão Ahab, interpretado por Gregory Peck, extraordinário por sinal, ganha o status de terceira mais deliciosa e correta adaptação literária que me ocorre neste sábado paraense e abafado. "Moby Dick"(1956), de John Huston é, com uma adaptação feita pelo grande contista e roteirista Ray Bradbury, a obra épica original a ganhar os contornos mais fidedignos livroversusfilme nesta honesta e divertidíssima película clássica.


devo lembrar de mais uns que listarei logo aí abaixo, vamos lá lembrar de excelentes adaptação literárias?

1. "The Dead" (1987), de John Huston. Foi o réquien deste diretor imenso. Adaptação de um conto de James Joyce. É sisudo, emocionante,irish total, adaptação realmente respeitosa. O canto derradeiro de Huston é de uma beleza plástica e de uma classe memorável. E olha que adaptar o Joyce é coisa para corajosos.


2. "Plein Soleil" (1960), de René Clement. A história original é de uma puta escritora de romances policiais, Patricia Highsmith, "The Talented Mr. Ripley" é um romance espetacular que narra a amoralidade em seu ápice. O Ripley de Delon além de lindo é de uma sutil/atordoante maldade que explode em uma grande adaptação.


3. "Willy Wonka and the Chocolate Factory" (1971), de Mel Stuart, baseado em livro homônimo de Ronald Dahl é uma deliciosa história de uma macabro senhor dos chocolates. Gene Wilder está em surpreendente performance do mau, idiossincrático e "pônciospilatos" dono da fábrica tão sonhada. Bela adapatação.


4. "Alien" (1979), de Ridley Scott, baseado em livro de Alan Dean Foster é simplesmente duca. Li o livro adolescente e pirei ao ver o filme. Sigourney, séculos antes dos Avatares, e John Hurt já valem o filme. "Seu grito não será ouvido no espaço".


5. "Bodas de Sangre" (1981), de Carlos Saura, baseado em peça homônima de Federico Garcia Lorca é ipsis litteris a história de uma tragédia de amor tranposta para a dança flamenca. Inicia uma trilogia ou tetralogia(?) de Saura com Antonio Gades e Cristina Royos, uns dos maiores dançarinos de flamenco. Linda adaptação! E esta eu tabém vi com meu pai (um dos primeiros filmes ao qual me levou!), que amava Carlos Saura.


Bem, como notaram, eu não quis citar minhas cabeçudices...filmes fiéis às suas obras literárias e ponto. Continuo em breve. Agora, vou acabar de ler "A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada", do Gabriel Garcia Marques, lindo e tristíssimo conto do realismo fantástico que, por sinal, também virou um filme ótimo do Ruy Guerra com Irene Papas e Cláudia Ohana, "Eréndira" (1983).

(rodrigo maroja barata - mai-2010).

sábado, 15 de maio de 2010

Sandmovies - filmes areentos

Brincava com um amigo e com os nomes de figuraças importantes do showbizzz, ríamos a valer: Jimmy Page virou Jaiminho Página, Billy Wilder era Wilsinho Fazedor de Selvagem, e tínhamos a Vanessa Túmulo Vermelho, o Roberto Planta, o Rogério Águas, o Wilson do P...Duro, a Égua do Presunto Vencedor, bem, era uma infinidade de nomes "ao pé da letra". Daí, desta infindável lista de bobagens, saíram os sandmovies, tudo por causa da Sandy, a quem chamávamos Areenta Franklin e Júnior, a dupla era assim para nós.

Sandmovies são filmes areentos, não por serem tediosos, não, mas por terem as areias de algum lugar ínóspito do mundo como protagonistas. Aqueles filmes, que mesmo sendo magistrais, dão-nos sede, ficamos de boca seca,mascando um Bubbaloo sabor Sahara.

O primeiro sandmovie listado em nossa memória, àquele tempo, meio aturdida pelos drinks, sempre fazíamos isso quando já altos de cerveja estávamos, foi "The English Patient" (1996), de Anthony Minghella, no qual as areias do Sri-Lanka são fundamentais para emoldurar o amor de Conde Laszlo Almasy (Ralph Fiennes, demais!), um misterioso e introspectivo aventureiro, por Katharine Clifton (Scott Thomas, imensa atriz!). Um melodrama areento de suprema beleza, mas que em suas 2 horas e tal nos deixa áridos.




Outro importante e grandioso sandmovie é "Zabriskie Point" ( 1970), de Michelangelo Antonioni, que se passa numa região do Parque Nacional do Vale da Morte, local de onde se extraía boro (minério que serve para uso da homeopatia e até na feitura de detergentes, desinfetantes, pesticidas, fertilizantes...) através da Cia. Do Vale da Morte. Os atores Mark Frechette e Daria Halprin, em sua primeira incursão no cinema, literalmente comem areia quando fazem amor e revolução. Filme lindíssimo com roteiro de Franco Rossetti, Tonino Guerra e Sam Sheppard a refletir sobre a contra-cultura nos EUA e os pensamentos comunistas e revolucionários dos jovens da época. O cenário é de badlands, areia e erosão. Sede!!!!





"The Sheltering Sky" (1990), de Bernardo Bertolucci, filme que tem uma Debra Winger e um John Malkovich em busca, nos desertos da África, de um significado para seus casamento e vida sexual em total tédios. A Película é um desbunde de secura e inocuidade. Dois burgueses, que nada têm a fazer, em busca de exotismo e semvergonice. É magistral, mas a gente fica até com a alma seca e desesperançosa ao vê-lo. Sandmovie de categoria!!! No entanto, vale deixar registrado que é um filme belíssimo em sua análise metalinguística, antropológica, sociológica e patológica, porque os protagonistas não regulam bem, ah, isto é fato!



Sandmovies são românticos, niilistas, neles, sempre alguém está à procura de outro alguém, são profundos, frios, tediosos, porém, epopeicos, em suma, são maravilhosamente areentos! Prometo! Não deixarei ninguém com sede! Postarei mais sobre Sandmovies. Amo-os todos, mesmo com suas intermináveis cenas desérticas...Listarei os 10 Sandmovies mais espetaculares e áridos do cinema, me aguardem com um gelado e cheio copo d'água!

(Rodrigo Maroja Barata Mai-2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lista dos 10 mais belos do cinema

Os 10 atores mais belos do Cinema e o melhor filme de cada:

1. Brando e "A streetcar named desire" (1951), de Elia Kazan


2. Newman e "Cat on a Hot Tin Roof" (1958), de Richard Brooks


3. Delon e "Rocco e i suoi fratelli" (1960), de Luchino Visconti


4. Beaty e "Splendor in the Grass" (1961), de Elia Kazan


5. Dean e "East of Eden" (1955), de Elia Kazan


6. Clift e "Suddenly, Last Summer" (1959), de Joseph L. Mankiewicz


7. De Niro e "Ranging Bull" (1980), de Martin Scorsese


8. Belmondo e "À bout de souffle" (1959), de Jean-Luc Godard


9. Fiennes e "The English Patient" (1996), de Anthony Minghella


10. Gosling e "The Believer" (2001), de Henry Bean

sábado, 8 de maio de 2010

Cinema e lágrimas desavergonhadas

Vontade de chorar? Tenho sempre! Pelas causas mais tolas, ainda mais quando, depois de tantas saudades impensadas...Bem, tenho cátedra em lágrimas, coisa de mestrado e doutorado em melancolia! E há algumas cenas de filmes que não dá para escondê-las, as tais lágrimas, é de se desfazer todo, coisa de, por favor, preparem vossos lençinhos!

Minha lembrança é um caco misterioso de um mosaico atemporal, por isso vou contar algumas vezes em que morri de vergonha e tive de sair de cabeça baixa do cinema, pois não contive minha tendência depressiva.

Fellini é o que mais me levou às lágrimas, nem sempre por compartilhar a tristeza de uns fotogramas, mas também por ser onírico e, por vezes, de uma nostalgia que chega a ser quase nossa. Quando Cabíria, ao cabo de suas desventuras de desamor, resolve entregar seu pobre coração vagabundo a um homem chamado Oscar D'Onofrio, que estava num show de variedades no qual ela é levada a um delírio hipnótico e conta sua vida em transe a uma plateia aos risos, eu queria entrar na tela e por aquela pobre mulher no colo.

O Homem sério e sereno a encanta, faz promessas; ela crê, vende tudo o que é seu e se despede da amiga de trampo e de vida (da vida?), enfim, de prostituta. Ela está feliz, radiante, mas ele acaba por se desmascarar e dá uns vários sopapos nela, que cai desmaiada. É furtada e humilhada. Nestas condições de total desesperança, sai vagando por uma estrada erma, quando uma trupe de jovens circunda Cabíria entre cantos e sorrisos. Aí vem a cena: Masina, aos poucos, vai retomando as forças e começa a parar de chorar, volta-se para a câmera e nos presenteia com o sorriso e o olhar mais ternos, doces, humildes e plenos do cinema. Chorei feito uma besta quadrada. Compulsivo, aquarianamente...chorei convulso e perene. Meu coração, a partir daquele segundo, era de Giullieta Masina. "Le notti di Cabiria" (1957), de Federico Fellini puxou meu tapete.



Quando o compositor Gustav von Aschenbach (interpretado magistralmente pelo imenso ator Dirk Bogarde), à beira da morte, devido à peste, maquia-se, veste-se elegantemente e senta à beira do mar, para admirar o perfil apolíneo e totalmente andrógino da beleza de Tadzio, paixão platônica avassaladora, e cai morto na espreguiçadeira com uma grossa gota de suor negro escorrendo, de seus cabelos pintados, pelo rosto pálido da decadência, meu(!)...de novo fui pego pela tristeza irremediável e me debulhei, chorei desavergonhadamente. "Morte a Venezia" (1974), de Luchino Visconti, baseado livremente na novela homônima de Thomas Mann, era a película que me expunha e me desnudava em pleno escurinho do cinema.



Tantas foram as cenas que não dá para enumerá-las em um post. "Amarcord" (1973), de Fellini, em sua cineautobiografia resgatando a infância numa Rimini nostálgica e onírica, ao som daquela trilha inesquecível de Nino Rotta, é choro (em meio a deliciosas gargalhadas) na certa, e em vários momentos; a solidão e a elegante decadência de Burt Lancaster em "Gruppo di famiglia in un interno" (1974), também de Visconti, são delicadamente amargas; o definhamento que leva à morte de Madame Bertini, em "La vieille dame indigne" (1965), de René Allio, ao ser interditada pelo filho, impedindo-a de realizar as viagens de carro sonhadas é de lanhar o coração, chorei sofregamente...e há mais uma porção imensurável de cenas, todas de marcar a ferro e brasa a pele mais encouraçada.



"Não tenho vergonha de dizer que estou triste", agora quintaneando (outro que me faz chorar!), não dessa tristeza dos que, em vez de se matarem, assistem, despidos de pudor, a lindos, melancólicos e terminais filmes...

(Rodrigo Maroja Barata Mai-2010)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Lista das 10 mais belas do cinema

As 10 atrizes mais belas do Cinema e o melhor filme de cada:

1. Adjani e "Possession"(1981), de Andrzej Zulawski


2. Mangano e "Gruppo di famiglia in un interno" (1974), de Luchino Visconti


3. Cardinale e "Vaghe Stelle dell'Orsa" (1965), de Luchino Visconti


4. Monroe e "The Misfits" (1961), de John Huston


5. Aimée e "La Dolce Vita" (1960), de Federico Fellini


6. Vitti e "La notte" (1961), de Michelangelo Antonioni


7. Deneuve e "Belle de Jour" (1967), de Luis Buñuel


8. Ardant e "La femme d'à côté", de François Truffaut


9. Hayworth e "Gilda" (1946), de Charles Vidor


10. Pfeiffer e "The Dangerous Liaisons" (1988), de Stephen Frears


(Rodrigo Maroja Barata Mai-2010)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Trívia cinematográfica


Seja o primeiro a responder à trívia cinematográfica e ganhe o prêmio surpresa de Maio:

1. Qual atriz é irmã de Warren Beatty? Cite 4 filmes dos quais ela tenha participado e seus respectivos Diretores.

2. Qual lenda cerca a cena da praia em "Some Like it Hot" (1959), de Billy Wilder, envolvendo a atriz Marilyn Monroe? Cena em que Marilyn está jogando bola com as amigas da Orquestra.

3. Quem é a mãe de Mellanie Griffith, atriz de certa importância na década de 1990? Cite 2 filmes que a mãe de Mellanie tenha estrelado.

4. Qual diretor de cinema europeu fez dezenas de entrevistas com Alfred Hitchcok? Cite 3 importantes obras deste grande diretor europeu.

5. Quais filmes e atores brasileiros já ganharam premiações no Festival de Cannes? Prêmios principais (Melhor filme, Direção, ator/atriz)?

Vencedor do Mês de Abril


O jovem Fabrício Oliveira foi o ganhador do mês de Abril no blog "No escurinho do cinema". O prêmio foi por ter colaborado com comentários construtivos, espertos e sagazes. Escolheu, dentre os filmes da lista de Arteen - filmes de arte para adolescentes, o dvd de "The Last Picture Show", de Peter Bogdanovich. Este filme é estrelado por Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Cloris Leachman e Ben Johnson.

No Texas, numa árida, isolada e limitada cidade, dois jovens, na década de 1950, à época da Guerra da Coreia, passam os dias bebendo, namorando e assistindo a sessões na única sala de exibição da cidade, quando em peripécias delinquentes, conhecem uma bela jovem pela qual os dois se apaixonam, gerando um conflito o qual encaminhará o espectador a um final surpreendente.

O filme aborda a iniciação sexual, a maturidade versus inocência, a melancolia de se descobrir numa cidade sem futuro e que não oferece perspectivas a ninguém.Uma película carregada de uma melancolia nostálgica, de um silêncio desértico, de um drama interior e de uma ambiguidade comuns aos jovens nesta passagem para a idade adulta. Filmado em belíssimo preto e branco, com imagens do oeste americano, com uma câmera revolucionária e uma das mais belas interpretações do cinema, a de Cloris Leachman (premiada com o Oscar de Melhor atriz coadjuvante em 1972, quando este prêmio ainda possuía certa credibilidade), no papel de uma jovem senhora amargurada, traída, maltratada pelo preconceito e pelas limitadas regras sociais do oeste americano naqueles idos, a qual comove com sua luminosidade na tela, o filme é um exemplar exercício niilista e cético acerca dos valores morais mais do que arcaicos e hipócritas da sociedade norteamericana.

Filme imprescindível e necessário para qualquer amante do cinema e para qualquer jovem (de qualquer idade).
(Rodrigo Maroja Barata Mai/2010)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lars Von Trier - maneirista experimental


Tanto em sua vida pessoal, como no cinema que realiza, Lars Von Trier não é uma criatura apegada às convenções. Hipnótico, como um de seus temas favoritos, o cinema deste dinamarquês, nascido em 1956, é um exercício de simbolismos e maneirismos estéticos. Sua filmografia é plena do outsider, marca de sua genialidade!

Desde muito jovem, já criava seus roteiros e suas primeiras incursões no cinema. É desta época, curtas como “The Orchid Gardener” (história sobre um homem suicida que conhece duas enfermeiras, amantes, durante sua temporada em um sanatório, e todos os seus devaneios e ilogismos) e “Menthe - la bienheureuse" (uma homenagem a "Histoire D'O" e à sua autora Anne Desclos), nos quais já demonstrava suas inquietudes e desvarios técnicos e metalinguísticos.

No entanto, foi depois de ter ingressado na Escola Dinamarquesa de Cinema que pôde, através dos curtas “Nocturne” (1980) e “Liberation Pictures” (1982) mostrar as habilidades com a câmera na mão, mais tarde, imensamente usadas por ele. Foram curtas realizados ainda quando ele cursava cinema e são totalmente experimentalistas, já prenunciando algumas das leis do Dogma 95. "Nocturne" é um belo poema visual a narrar a história de uma mulher que, quando tem sua janela quebrada, fica com horror à luz, de qualquer luz e "Liberation Pictures" foi um projeto escrito para a sua graduação em cinema.

Ao sair do período de formação acadêmica, nada ortodoxa em se tratando de Lars Von Trier, dirigiu seu primeiro longa-metragem, "Elemento do Crime" (1984), filme no qual aborda a hipnose, tema recorrente em suas obras e pelo qual tem verdadeiro fascínio. Um triller policial, inquietante, em que o protagonista, Fisher, um policial que presencia um homicídio, ao retornar ao Cairo, tem de recorrer à hipnose para solucioná-lo. O expediente o faz revisitar Innenstadt e seu universo de delinquência juvenil e de duvidosa conduta da polícia. Lars recebeu o prêmio técnico em Cannes.

Com "Epidemic" (1987), Lars, metalinguisticamente, aborda a história de um roteirista e de um diretor que estão escrevendo um filme sobre uma epidemia que assola o mundo inteiro e não percebem que ela está rondando a si próprios. Novamente volta ao tema da hipnose, só que, neste, o diretor recorreu a um médium e a um especielista. A cena que vemos no longa é real e ocorrida ao acaso, característica em suas obras posteriores. Recebeu, em 1991, por esta produção de baixíssimo orçamento, o Grande Prêmio do Júri e o de Melhor Contribuição Artística em Cannes.

Seus projetos seguintes foram "Medea" (1988), adaptação da tragédia grega de Eurípides; "Europa" (1991), filme que projetou Lars internacionalmente, e que definitivamente, tornou-se um clássico sobre a 2ª Guerra Mundial e traz, pelo menos uma sequência magistral e inesquecível, quando, na abertura, uma voz em off narra as agruras da guerra e o som de um trem corta a noite e "Breaking the Waves" (1996), com a imensa atriz Emily Watson, sobre as reviravoltas de um casamento em crise.

Em 1994, filmou uma minissérie para a televisão dinamarquesa de terror e humor negro, "O Reino" (The Kingdom), que narra episódios de paranormalidade e assombrações no dia a dia de um hospital. Teve uma sequência, "The Kingdom II", em 1997.

Mas foi com "Os Idiotas" (1998), que tive a primeira experiência nauseabunda com Trier. Filme impressionante, já seguindo os princípios do Dogma-95 (câmera na mão, ausência de adereços de cena, de estúdio e de gênero cinematográfico, uso de iluminação natural, som gravado na hora da filmagem, rusticidade, não-atores e outros mandamentos), o qual narra a história de um grupo de amigos que experimentam todas as formas de idiotia numa espécie de libelo contra a própria idiotia do mundo. Tão inquietante que choca com suas imagens de extrema realidade e sexo explícito.

Na sequência, vieram obras máximas: "Dancing in the Dark" (2000), com a premiadíssima atuação de Bjork e Catherine Deneuve, baluarte do cinema francês. Musical sobre a urgência, sobre o amor maternal, sobre cegueira e pena de morte. Filme que mescla uma profunda melancolia a uma imensa sensação de redenção. Experiência sonora e visual que leva o espectador mais insensível aos soluços.

A trilogia "EUA - Terra das Oportunidades", formada por "Dogville" (2003), "Manderlay" (2005) e "Washington" (anunciado em 2007), retratam um EUA devastado por cinismo e hipocrisia. Lars diz: "Os críticos me atacam por ter feito filmes sobre os EUA sem nunca ter estado lá. Entretanto é inegável a presença da cultura norteamericana em todos os países. Não fiz documentários. Creio que os erros cometidos por um estrangeiro só fazem os meus filmes ficarem mais interessantes". É a trilogia das relações sociais (formação das sociedades), das mazelas e do desconforto. Filmes secos, sem cenários, somente com marcações deles no chão, crus, frios, inspirados no teatro épico de Brecht, o qual conduz o espectador a uma ilusionária realidade, dirimindo-lhe a percepção crítica. Lars trata seus personagens de maneira caricatural, porém numa intimidade de causar repúdio. Inegável que sua visão estrangeira desnuda uma América de caos, subversiva e paradoxal.

Cineasta depressivo, lançou "Antichrist" (2009) uma espécie de exorcismo de todas as crenças e descrenças, angústias e medos do diretor. Um casal, ao fazer amor, perde o filho, que cai da janela do apartamento. O casal resolve, então, refugiar-se numa cabana na Floresta Éden para ininterruptas sessões de delírio e instrospecção. Uma saga bíblica, genesíaca, sobre a mulher em seu estado primevo, animalesco, frágil e ao mesmo tempo visceral. Não é, na realidade, um filme de terror, é uma narrativa de enfrentamento, de delirium, gradação ascendente ao inferno individual, ao onírico, ao mais tenebroso sentimento de isolamento e karma. Explicá-lo é evasivo, contá-lo é desmerecê-lo, classificá-lo é estupidez.

Lars Von Trier é um diretor insondável, perene em sua eterna briga com o mainstream, contra sua personalidade ególatra, depressiva e inconformista. Coisas de gênio, não de mortais. Sintomatologia de mestre das viagens visuais, pictóricas, literárias (são constantes suas citações nietzscheanas, strindberguianas...) e fílmicas (a presença de um clima bergmaniano é inconteste).

Atualmente, filma pouco. Está em pré-produção de "Melancholia" e "The Erotic Man". Sabe-se pouco dele a cada filme. Viaja-se muito com ele em todos os fotogramas. Lars Von Trier é silêncio, idiossincrasia e provocação...
(Rodrigo Maroja Barata - Mai/2010)

domingo, 2 de maio de 2010

Lista dos 10 melhores filmes de Terror:

1. "Nosferatu" (1979), de Werner Herzog
Obra prima de Herzog com um dos maiores atores de todos os tempos, Klaus Kinski, e a mais bela atriz do cinema europeu, Isabelle Adjani. Terror vampiresco, elegante, fino, filme de arte!


2. "The Evil Dead" (1981), de Sam Raimi
Jovens, em uma cabana isolada, recebem a visitinha do demônio! Obra de Mestre!


3. The Shining" (1980), de Stanley Kubrick
Um escritor recebe um trabalho de inverno, tomar conta de um hotel desabitado. Com a esposa e o filho, o iluminado, o escritor passa uma das temporadas mais sinistras e reveladoras do hotel. Jatos de sangue! Obra-prima!


4. "Psycho" (1960), de Alfred Hitchcock
Uma ladra se refugia num hotel de beira de estrada e se depara com um jovem rapaz, introspectivo, que possui uma psicopatia edipiana. Genial!


5. "Carrie" (1976), de Brian De Palma
Filme sobre uma garota tímida e feiosa, que ao sofrer constantes bullings por parte dos "amigos", descobre poderes paranormais e sai promovendo uma sucessão de sanguinolência.


6. "Antichrist" (2009), de Lars Von Trier
Filme misógino de Trier, um casal, após a perda do filho, resolve se isolar numa cabana de campo para rever a vida e os fantasmas interiores. Aterrorizante!


7. "The Omen" (1976), de Richard Donner
O Anticristo chega a Terra na pele de um dócil e infernal menino adotado por um casal americano. A cena do enforcamento da babá é sensacional!


8. "The Exorcist" (1973), de William Friedkin
Obra máxima da possessão demoníaca! O duelo entre Linda Blair e Ellen Burstin é algo de arrepiar a alma! Não tem para mais nenhum: clássico incomparável!


9. "Opera" (1987), de Dario Argento
Uma cantora lírica tem, enfim, a oportunidade de estrelar Macbeth substituindo a prima dona acidentada. Esta peça de Shakespeare possui uma terrível e eterna maldição, que, obviamente, perseguirá todo o elenco. Totalmente freak, um pouco kitcsh, mas genial!


10. "Don't look now" (1972), de Nicolas Roeg
Julie Christie e Donald Sutherland, em Veneza, sofrem os traumas da recente perda da filha. Filme de terror psicológico e espiritualista! Belas e aterrorizantes imagens de uma das mais românticas cidades do mundo!