
Entro no Cine Horror a fim de assistir a "Carrie" (1976), de Brian De Palma, junto a uma plateia de cinéfilos e amantes dos scary movies. O incômodo começa justamente nos letreiros iniciais, quando uma câmera insinuante e sensual adentra o vestiário feminino da Bates High, no Maine, ao som da música de Pino Donaggio, a qual inicia terna e vai ganhando nuances sanguinárias.
Daí, acompanhamos a suave fotografia e a tal câmera que desenha os contornos do corpo de uma jovem que se banha. De súbito, eis que ela começa a sangrar, e muito, e aquela câmera desvairada vai mostrando a aflição e o desespero de Carrieta, menstruada e zombada pelas amigas de escola. Mote para um dos filmes mais aterrorizantes do cinema. Bulling, fanatismo religioso, poder da mente, vingança, ridicularização pública, morte em massa, com direito à cena de maior tensão que já vi na vida de cinéfilo: a do baile de formatura.
Sob a batuta de De Palma, o romance de King se torna uma película visionária e mórbida. Sissy Spacek cria uma personagem tão frágil, que torcemos por ela a cada morte anunciada. É o direito de ser diferente, freak, de fugir aos padrões estabelecidos pelos códigos de convenções estúpidas. De arrepiar a alma.
Continuo na sessão pavor, e entra em cartaz, no Cine Horror, "The Exorcist" (1973),de William Friedkin, clássico da possessão demoníaca, eternizou o exorcismo em fotogramas de gênio louco. Conta-se que Linda Blair nunca mais foi a mesma depois de interpretar a menina de 12 anos que é literalmente deflorada e rasgada na genitália por um crucifixo, vomitando porralouquices, com direito a todos os efeitos especiais para nos fazer crer que num quarto em Georgetown, arredores de Washington, uma garotinha está deliberadamente se autoflagelando aos olhos perplexos de sua mãe e de dois padres. Inacreditáveis cenas de insânia e desespero. Fico com receio de escrever sobre o filme e voltar à adolescência, quando o vi pela primeira vez, e fiquei semanas sem dormir direito. Nunca o bem e o mal se viram tão próximos e se digladiaram com tamanha maestria como neste filme.
O Cine Horror a cada década vai se especializando em nos deixar em transe, entram em cartaz filmes da estirpe de um "Rosemary's Baby" (1968), de Roman Polanski, baseado em romance de Ira Levin, a mostrar a trajetória desesperadora de Rosemary, Mia Farrow, genial, que engravida do capeta em meio a seitas de bruxas e vizinhos nada ortodoxos; "The Evil Dead" (1983), de Sam Raimi, o qual com muito pouca grana, imortalizou o mais sensacional travelling do cinema, por entre árvores e arbustos, o demônio chega violentamente a um casebre isolado onde jovens esperam seus fins (a cena do estupro da garota por raízes de uma árvore é inesquecível)...
Robert Wiene, Carl Dreyer, James Whale, Alfred Hitchcock, George A. Romero, Stanley Kubrick, Clive Barker, Tobe Hopper, Nicolas Roeg, Steven Spielberg...um atrás do outro maquinando o medo, enfeitiçando plateias, ungindo com sangue as noites insones dos espectadores...
Como deixar de reverenciar a psicologia do Cine Horror? Uns dizem ser um gênero menor. Eu considero jogada de gênio conseguir o susto, mesmo e, sobretudo, quando se sabe que, naquele átimo de segundo, algo pode estar renascendo das trevas...
Até a próxima sessão...
(Rodrigo Maroja Barata - Abrl/2010)