quarta-feira, 21 de abril de 2010

Final de filme


Penso em filmes como quem tem sede ou como quem simplesmente ama! Há anos, fizeram-me uma pergunta singular. Era para algum jornal de minha cidade: qual era o final de filme que mais me comovia? Óbvio que alterei um pouco a pergunta, até porque minha memória para interrogatórios não é muito lúcida, nem esclarecedora.

Final de filme? Sempre concordei com os epílogos na vida: simples, quase uns sopros, uns sustos, ou simplesmente nada de extraordinário, as coisas somente findam e ponto. A vida não nos impressiona com finais grandiloquentes, quase sempre são singelos e, por vezes, não refletem nossas expectativas.

Na hora, lembrei-me de um excepcional filme de Woody Allen, meio esquecido em meio à cinebiografia de um dos mais perturbadores cineastas norte-americanos, "Another Woman" (1988), com Gena Rowlands, Mia Farrow e Gene Hackman. Um filme de uma sisudez e de um silêncio quase constrangedores; possuidor de um clima outonal, literário, um acerto de contas com a vida e seus enconderijos, seus desvãos...A protagonista, belamente interpretada por uma Gena Rowlands (quase sempre eu penso que ela vai ter um ataque de nervos em seus filmes) serena, certa de que nada em sua existência está errado, de que é detentora de todo o controle emocional e sentimental em sua vida. Uma filósofa, brilhante professora e mulher correta em sua trajetória de equilíbrio. Até que descobre, através de um diálogo que lhe chega pela ventilação do edifício de escritórios (daqueles antigos no centro de Manhathan) onde trabalha, um diálogo entre uma moça insuportavelmente triste e grávida e seu psicólogo, que a sua vida estava uma desgraça. Totalmente em desacerto e às avessas.

Toda a trajetória da protagonista volta-se para tentar recuperar tudo o que ela perdeu ou deixou de ver, devido à idiotia (disfarçada de intelectualidade), o que viveu por todos os anos desde quando se tornou uma gélida e petrificada mulher controladora.

O final é tão surpreendente, que o espectador não o espera e quando ele chega, lhe dá um susto tão grande, pois ele é tão óbvio e tão sereno, que lhe dá um punch no estômago e você é pego chorando copiosamente e com vergonha de ter caído em mais uma armalhidaosa narrativa burguesa e brilhante de Allen.

Outros finais me deixaram em êxtase, "Le notti di Cabiria" (1957), de Federico Fellini, no qual há aquele impossível e cúmplice olhar de Giullieta Massina para a câmera ou em "Thelma and Louise" (1991), de Ridley Scott, que gela nossos corações acrofóbicos.

Mas nada se compara ao final de "A Outra", nunca me senti assim tão plácido e aliviado, completamente em paz.

(Rodrigo Maroja Barata - Abr/2010)

2 comentários:

anonimo disse...

Pensando em fim.. Lembro do Filme Dançando no escuro não pelo seu fim, q tbm é bom. Mas pelo comentario da personagem de Bjork, que diz, que deixa de assitir a um filme antes do seu fim. Como quem querendo não colocar um ponto final ou para deixa-lo ainda viver, premanecer. Costumo assitir os filmes ate o seu fim.. Mas curto fins que permaneçam, q tem espaçaos em branco, inabitados... por algo que escapa...

Rodrigo Maroja Barata disse...

belo comentário, amigo! também amo os finais em branco...fugidios, mas que não escapam oficialmente!