sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

belém noel



ilustração "Helicônea 3",by renato pantoja

belém noel

onde morávamos, pelo fim de ano, o céu era sempre em preto e branco, a lâmpada da cozinha de vovó waldomira acordava acesa, e eu sabia que era dia de ver hanna&barbera e o elo perdido, de esperar o mabel com ki-suco de uva no meio da manhã, de ansiar pela noite,

vinha do andar de baixo um fumo de peru com castanhas portuguesas, odor de fio d’ovos com torta de bacuri e pão de ló, era meu aquele dia, não pertencia a quem ficava fora de casa, o natal acontecia desde as primeiras horas da véspera, como uma gestação...

waldomira chamava a rapariga e sempre me acudiam a comprar algo na esquina, que menino não tem idade pra atravessar a rua ainda! precisão de algum tempero, ou farinha praquela farofa com miúdos, ou pimenta; lá em casa, todos careciam de ardor,

eu e os primos sabíamos os esconderijos dos presentes, mas acreditávamos severamente no velho noel, o pai natal, não naquele do refrigerante, não, em são nicolau, de quem nos contavam os milagres e tinha até encenação de mistério na paróquia do colégio,

a ceia de waldomira era evento quase ecumênico: todos da família, até as tias insanas, tão carinhosas...num faltavam nem as fatias paridas, tudo em seus lugares,

naquele natal, acordei dia vinte e cinco e fui pra baixo da cama, lá estavam: um vidro de balas de tangerina, uma caixa de música com a canção das gotas que caem cotínuas sobre nossas cabeças, um falcon mergulhador e um livro...

onde morávamos, o céu continuava cinza, waldomira, estafada, mas feliz, meus primos iam brincar na calçada, eu, escondido no porão, lia ou isto ou aquilo e comia todas as balas de tangerina.

(rodrigo maroja barata – out/2010)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

devoção fingida ou e deus criou a mulher?



devoção fingida ou e deus criou a mulher?

ele diz, tragando um cigarro, sem noção do perigo, chega de firulas, diga logo que queres foder com a minha vida!

ela, entre nuvens de fumaça, espero não ter de revestir as paredes de meu quarto depois que te fores embora!

ele, engasgado, se acaso fores embora, levanta antes a âncora que prendeste em meu desejo... desata-me desta camisa de força! me dá um punhado de sertralina!

ela, aliviada, vou pro caribe virar pintora cubista, pois esta história de cubo mágico me deixou sequelada!

ele, no último trago, mesmo (!), prefiro estar sem roupas a desencontrar minha outra pele, de asno?

(rodrigomaroja barata Nov/2010)

sábado, 20 de novembro de 2010

haicai de longe, muito longe




tuas alvas mãos
adulam grisalhas nuvens;
chove sobre nós!

(rodrigomarojabarata nov/2010)

haicai da chuva amante




ao norte de nós,
caminham chuvas esparsas
em direção ao sul

(rodrigomarojabarata nov/2010)

domingo, 17 de outubro de 2010

koop: contemporary scandinavian music


descobri, através de meu amigo e ilustrador, este incrível duo de jazz eletrônico e samples, formado por Magnus Zingmark e Oscar Simonsson, que são suecos, e o cd Koop Islands (2006), com participação dos músicos Yukimi Nagano, Ane Brun, Rob Gallagher e Mikael Sundin fala por si só, ouçam no youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=qTTGX27fsA4&has_verified=1

Valeu, joão augusto! é inspirador...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

cinema e os duendes da morte



fiquei em estado de transe, o tempo estava lento e uma névoa pediu abrigo em minha alma. estes foram alguns dos sentimentos suicidas e delirantes que nutri ao ver "Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009),de esmir filho. não sou muito de rasgar sedas por um filme. mas o silêncio e as frias paisagens me remeterema um estado de suspensão, de encantamento, onírico, etílico, marijuânico. já estou novamente pregando loas... o filme é uma espécie de manifesto dos tediosos e suicidas, não de párias, colonos riograndenses do sul, numa masmorra sem muros, numa desesperança sem par. filme que leva a crer no isolamento íntimo de seres os quais vivem áridas experiências e nuas passagens pela vida.



esmir filho tece uma narrativa quase sinestésica, gusvansântica (vide o enamoramento e enlevante atmosfera teen fortemente pautada e pontuada ao longo da película), um pouco amniótica, um tanto psicotrópica, com as imagens oníricas que o moleque protagonista tem da menina suicida e com a própria imagem do moleque, de rara beleza e sensualidade. a ponte é um dos sets mais incômodos que vi no cinema nos últimos tempos. ela é fantasmagórica e ao mesmo tempo um memorial aos sem vez, aos que se desnudam frente aos hipócritas. filme importante, urgente, simples, porém impiedoso e na contra-mão dos blockbusters espiritualistas e chatos que estão estourando as bilheterias nacionais. elenco afinado, trilha deliciosa e nostálgica, roteiro sensível. um filme de beleza imensa...

(rodrigo maroja barata - out/2010)

sábado, 4 de setembro de 2010

filmes gueis

retorno aos posts. fiquei à mercê de projetos outros, mas recentes filmes de temática homoerótica a que assisti, em julho e agosto, me fizeram pensar em como o tema vem sendo abordado pela sétima.
o primeiro que vi foi um filme tolo, talvez uma das tolices mais inócuas e inermes já produzidas. jovens pseudo-surfistas e pseudo-heróis numa pseudo-califórnia quente, tediosa e sem violência se entregam à lascívia do amor guei. lindos rapazes, corpos sarados, roteiro vazio. primeiro amor em filme guei é conto de phadas. trata-se de "Shelter" (2007), de Jonah Markowitz. os problemaços de alcoolismo do pai, da sassaricagem e irresponsabilidade da irmã dão ao protagonista ares de héracles moderno. pena não ter substância e nem de longe parecer um clássico do gênero. filme bonitinho, para um publicozinho recém guei, tudo inho, para uma tardezinha de um diazinho qualquer.


daí vi o brasileiro e com pinta de polêmico (nossa! aborda o insesto! e guei!!!!!). é necessário e urgente assistir a um filme tão polêmico, "Do começo ao fim" (2009), de Aluízio Abranches, pô, o cara tinha feito "Um copo de Cólera" (1999) e "Três Marias" (2002), filmes que pelo menos vão até onde este recente promete, do começo ao fim. o filme guei e insestuoso do abranches não vai a lugar nenhum: é insípido, inodoro, por vezes incolor e totalmente ausente de conflito, ou de desenvolvimento do conflito suscitado, narrativa linear, interpretações metidas à besta, com pose de estamos discutindo algo sério, para nada, literalmente nada. pergunto-me somente uma coisa: só existem gueis lindos no mundo do cinema? pois é a única atração, belos rapazes se contorcendo e revolvendo suas partes para dar em parte alguma. outro desperdício de fotogramas...


aí, sim, vi um filme guei à altura dos grandes filmes heteros, trans, pãs, trhillers... "A Single Man" (2009), de Tom Ford, com Collin Firth (este um imenso ator) e Jullianne Moore (esta, uma p...atriz). filme conciso, preciso, discreto, charmoso, elegantérrimo como todo guei o é ou deveria ser. baseado em Christopher Isherwood, escritor inglês, naturalizado norte-americano que escreveu obras clássicas sobre Berlim (país que o atraiu por sua libidinagem e liberdade sexual), e que extraído de obra sua, já temos o belo "Cabaret" (1972), de Bob Fosse. "Direito de Amar", título totalmente incorreto, nada criativo e, por vezes, cruel para com o filme, ou melhor, "A Single Man" é um real filme guei, com sentimentos verídicos, interpretações viscerais, tomadas de câmera surpreendentes, belíssimas fotografia e direção de arte, enfim, um guei que dá vontade de escrever posts. Collin Firth, ator britânico dá uma dignidade ímpar ao protagonista, um desespero, uma angústia, uma solidão e uma autodestruição primorosamente interpretadas. o filme é limpo, mas no fundo é punk, um soco no estômago e não tem gueis lindos só para se desculpar...


estou com outro filme guei para assistir: "Die Konsequenz" (1977), de, pasmem! Wolfgang Petersen. promete ser o primeiro filme alemão realmente guei e ainda com um relacionamento entre homens de idades bem diferentes, também um precursor da chutada no balde (maravilhosa!) dada por Fassbinder logo depois. espero ver e senti-lo. este talvez seja para ser levado mais a sério!

(rodrigo maroja barata - set/2010)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lista dos 10 melhores Sandmovies:


Além dos Filmes já listados em post anterior, aqui está a prometida lista dos 10 melhores Sandmovies de todos os tempos.

1. Paris-Texas (1984), de Win Wenders, é o melhor dos filmes areentos. Uma experiência visual, pictórica, árida, de um homem em contínua busca, numa fuga pelos desertos texanos. Fuga para esquecer de si e encontrar-se antiteticamente. Culminando numa das sequências mais brilhantes, protagonizadas por uma belíssima Nastasja Kinski. Imperdível!



2. Lawrence Os Arabia (1962), de David Lean, vaseado na obra de T. H. Lawrence, "Os Sete Pilares da Sabedoria". è a autobiografia do escritor durante a 1ª Guerra Mundial. Explora a excentricidade e o dandismo do protagonista. Peter O'Toole está magistral!



3. Thelma & Louise (1991), de Ridley Scott. Susan Sarandon e Geena Davis estão magníficas nesta saga de duas mulheres descontentes com suas vidas que se tornam criminosas perseguidas pela polícia norte-americana. Final de arrepiar!



4. Mad Max (1979), de George Miller. Filme apocalíptico, estrelado por um iniciante Mel Gibson. O deserto australiano vive dias de completo caos com guangues disputando poder e aterrorizando por um pouco de combustível. Aventuraça!



5. Il Deserto dei Tartari (1979), de Valerio Zurlini. Baseado em obra de Dino Buzatti. No deserto, um grupo de soldados, em um forte, espera o inimigo que nunca chega. Questões pessoais afloram enquanto esperam...



6. Babel (2006), de Alejandro González Iñárritu. Histórias secas, áridas, desérticas entrecruzam-se num caleidoscópio de desesperança e solidão. Sandmovie de primeira. Reparem na cena do casamento ao som de um triste e belo bolero...



7. Hatari (1962), de Howard Hawks. Com locações na Tanzânia, narra a história de um grupo de caçadores que se encontra anualmente num período de três meses em que a caça é autorizada, a fim de abastecer zoológicos do mundo todo. Politicamente incorretíssimo, mas uma brilhante comédia de aventura, estrelada por John Wayne, ao som da imortalizada canção de Henry Mancini "Baby Elephant Walk".



8. Once Upon a Time in West (1968), de Sergio Leone. Obra prima do Western spaghetti. Trilha de Ennio Morriconi. Épico incomparável.



9. Bye, bye, Brasil (1979), de Cacá Diegues. Artistas ambulantes cruzam o país na Caravana Rolidai, mambenmando para pobres e nos lugares mais inóspitos do Brasil. Filme máximo, obra prima da cinematografia nacional.



10. Duna (1984), de David Lynch. Duna é um romance de ficção científica escrito por Frank Herbert e publicado em 1965. Com trilha de Iron Maiden, narra uma história que mistura ficção-científica e um império feudal em expansão. Sandmovie e Sci-Fi.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

cinema e rejeitados

assisti a um filme com meus alunos que foi insensado nos últimos festivais "Precious" (2009), de Lee Daniels. Credito a ele os mesmos elogios: dramático, tenso, seco, duro, daqueles que não têm concessões. Gabourey Sidibe é preciosa, verdadeiramente, em sua interpretação sutil e ao mesmo tempo visceral. Confesso que me emocionei píncaros com os 109 minutos da trágica, porém não menos lírica, vida da menina obesa negra e totalmente destruída, de quem a adolescência, a pureza, o prazer de viver foram arrancados impiedosamente. Daí pensei nos enjeitados, nos da geral, nos párias, naqueles dos arrabaldes, dos deformados, dos com déficits, dos loucos de pedra e estandarte...


resolvi imediatamente comentar e listar (como me furtar de meu novo TOC)alguns filmes que têm como protagonistas os enjeitados. Começo por uma obra-prima da agonia e do terror de ser um marginalizado, "The Elephant Man" (1980), de David Lynch. John Hurt desenhou um John Merrick, nome do personagem, real, com tanta perfeição de minúcias que chega a beirar o magistral. A voz, o gestual, a crueza, no entanto e sobretudo, a genial elegância e dandismo do homem que nasceu na Inglaterra da 2ª fase da Revolução Industrial, com noventa e muitos porcentos do corpo totalmente deformados são milimetricamente desfiladas diante de nossos olhos aterrados. É de causar dó, lágrimas, depressão imaginar quão desgraçada é a vida de um ser imperfeito ao julgamento mortal. Filme em que Lynch aproveita para ensaiar seus delírios oníricos ao narrar o ataque de elefantes à provável mãe grávida do personagem. Preto e branco lindíssimo, poesia lynchiana.


há um filme com a Cher, é, ela mesma, a cantora, que, por sinal é uma p... atriz (ganhou até a Palma de Ouro por esta mãe, motoqueira, junkie) chamado "Mask" (1985), de Peter Bogdanovich, que é um belo exemplar de outro filme de enjeitados. Mask é a história de Roy L.'Rocky' Dennis, um jovem com displasia craniometafisária, ou seja, a cabeça da criatura não para de crescer, é o alargamento ósseo do crânio, o qual leva a uma morte precoce e por demais sofrida. Pois bem, o menino, interpretado por Eric Stoltz, sofre deste mal, o bom é que ele é "filho" de um bando de motoqueiros aventureiros e maconheiros, os quais o protegem de tudo e de todos. Cher, a oficial mãe, está brilhante, e o filme só peca por um certo pieguismo aqui e ali, e por alguns feios erros de continuísmo, principalmente no final, mas é um autêntico filme de rejeitado.


poxa, sinto-me pressionado por uma centena de filmes protagonizados por párias e rejeitados: preciso listar os 10 melhores filmes com seres marginalizados. Faço em nome de todos eles, faço em meu próprio nome também, pois somos um pouco rejeitados ao longo da vida, seja por questões físicas, ou opções sexuais, ou traços religiosos. Mas somos. Promessa é dívida, listarei estes filmes e os sandmovies prometidos em post anterior. Farei ainda esta semana. Aceito dicas...

que tal Carrie? Quasímodo? Truman? Cabíria? Bent? são tantos...viva todos os preciosos do mundo!

(rodrigo maroja barata - jun/2010)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Yasmim Pamponet - vencedora do mês de junho!

resposta da trívia postada por yasmin: (Yasmim ganhará 10 locações na Fox Vídeo e 1 dvd à escolha, presente deste humilde blog)

1- O filme é: "Hannah and her sisters" (1986)

o poema é: "Somewhere I have never travelled" de e. e. cummings

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, misteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands

personagens: Elliot (Michael Caine) e Lee (Barbara Hershey)



2- O filme é: "Splendor in the grass" (1961)

o poema é: "Ode. Intimations of immortality" de William Wordsworth

o texto é usado quando Deanie está na aula e sua professora pede para ela recitar o poema.

personagem: Wilma "Deanie" (Natalie Wood)

ps. o poema é gigante e não cabe no comentário, mas é esse aqui: http://www.bartleby.com/145/ww331.html



Eu realmente fiquei me perguntando se ela conseguiu tudo na wikipédia. Mas o pior é que a menina é danada! Ela tem fontes valiosíssimas e assessoras, pelo que pude pescar pelos ares...Parabéns, Yasmim, vamos postar uma foto quando o pessoal do blog (ops, eu) te entregar o prêmio?

(rodrigo maroja barata jun/2010)

PS: haverá outra trívia este mês ainda!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Trívia do mês de Junho

ao contar do blog para o Marquinho e para a Déborah, donos da Fox vídeo, ganhei 10 locações! bacana! então vamos à trívia de junho.São exatamente 15h16 e o primeiro que postar as respostas corretas, ganhará estás 10 locações da Fox Vídeo e mais 1 dvd de presente do blog "no escurinho do cinema...". caso não more em belém, a gente conversa sobre as 10 locações...

desta vez tentarei não fazer perguntas que possam ser respondidas wikipediatamente...vamos lá:

1. em qual filme do woody allen rola uma cantada com um poema de um dos maiores poetas norteamericanos do século xx? qual é este poeta e qual é o poema? entre quais personagens (quais seus respectivos atores) é usado o texto?
obs: tem de postar o poema!

2. em qual filme da lista dos 10 mais belos do cinema, há um outro poema quase como personagem? qual é o poeta e o poema? no filme, o texto é usado em que situação? qual personagem o recita (diga o ator ou atriz)?
obs2: idem

(rodrigo maroja barata jun-2010).

quinta-feira, 20 de maio de 2010

cinema e literatura

bem...se não sabem, sou professor, há 20 anos, um singelo trocador de conhecimento! Nunca por acaso, da seara das letras, mais do que óbvio! Então me ocorreu de ao cel com o John, meu parceiro de cinema e de altíssimos papos, trocar uns finos sobre filmes que nasceram de livros. Rimos como sempre, pois é pontual surgirem as deliciosas bobagens...Tenho patias, confesso! E toda vez que falo com o John, sinto-me (sentimo-nos, por certo!) necessidade de fazer listas, coisa de transtorno obessivo compulsivo, nada demais!

agora posso fazer ums lista dos dez filmes cujos roteiros nasceram de obras literárias. Mas somente listarei os que eu, debilitadamente, recupero em minha cansada lembrança...Logo de sopetão, vem-me à recordação um filme nacional, uau, o primeiro que cito neste espaço, embora ame vários, "Amor e cia." (1999), de Helvécio Raton, baseadoi em uma deliciosa novela de Eça de Queiroz, oa película conta uma história de adultério no século XIX, em São João Del Rey, o triângulo é formado por Marco Nanini, Patrícia Pillar e Alexandre Borges, ótimos todos, com uma tragicomicidade, os três nos brindam com interpretações precisas. A adaptação das novela é 99% fiel, a reconstituição de época, corretíssima. Enfim, um filme adaptado de um escritor clássico e de categoria! A trajetória de ups & downs de Nanini é de se reverenciar!


outra adaptação de livros que muito me comove é de um drama de Tenesee Williams,"A Streetcar Named Desire" (1851), de Elia Kazan, são siamesas as obras, falo da literária e da fílmica. Além de Vivien Leigh ser uma das mais poderosas atrizes de uma constelação, somada ao Brando, a química é avassaladora. A adaptação da decadência de Blanche Du Bois e o erotismo sulista, calorento, aprisionante são ingredientes para uma excepcional adaptação. A decadência moral, de todos os valores sacramentados e hipócritas, nossa, o filme é um desbunde! ah! o Karl Malden é tão grande ator, tão sutil em sua interpretação de um bobalhão platônico que dá dó na gente, Filmaralhaço!


bem, não cuspam em mim, please, mas a adaptação de John Huston para o maior clássico oceânico do mundo é de ser adorada em altar, a obra criteriosa, minuciosa, elegante de Herman Melville rende e sempre renderá belos filmes, mas Huston com um Capitão Ahab, interpretado por Gregory Peck, extraordinário por sinal, ganha o status de terceira mais deliciosa e correta adaptação literária que me ocorre neste sábado paraense e abafado. "Moby Dick"(1956), de John Huston é, com uma adaptação feita pelo grande contista e roteirista Ray Bradbury, a obra épica original a ganhar os contornos mais fidedignos livroversusfilme nesta honesta e divertidíssima película clássica.


devo lembrar de mais uns que listarei logo aí abaixo, vamos lá lembrar de excelentes adaptação literárias?

1. "The Dead" (1987), de John Huston. Foi o réquien deste diretor imenso. Adaptação de um conto de James Joyce. É sisudo, emocionante,irish total, adaptação realmente respeitosa. O canto derradeiro de Huston é de uma beleza plástica e de uma classe memorável. E olha que adaptar o Joyce é coisa para corajosos.


2. "Plein Soleil" (1960), de René Clement. A história original é de uma puta escritora de romances policiais, Patricia Highsmith, "The Talented Mr. Ripley" é um romance espetacular que narra a amoralidade em seu ápice. O Ripley de Delon além de lindo é de uma sutil/atordoante maldade que explode em uma grande adaptação.


3. "Willy Wonka and the Chocolate Factory" (1971), de Mel Stuart, baseado em livro homônimo de Ronald Dahl é uma deliciosa história de uma macabro senhor dos chocolates. Gene Wilder está em surpreendente performance do mau, idiossincrático e "pônciospilatos" dono da fábrica tão sonhada. Bela adapatação.


4. "Alien" (1979), de Ridley Scott, baseado em livro de Alan Dean Foster é simplesmente duca. Li o livro adolescente e pirei ao ver o filme. Sigourney, séculos antes dos Avatares, e John Hurt já valem o filme. "Seu grito não será ouvido no espaço".


5. "Bodas de Sangre" (1981), de Carlos Saura, baseado em peça homônima de Federico Garcia Lorca é ipsis litteris a história de uma tragédia de amor tranposta para a dança flamenca. Inicia uma trilogia ou tetralogia(?) de Saura com Antonio Gades e Cristina Royos, uns dos maiores dançarinos de flamenco. Linda adaptação! E esta eu tabém vi com meu pai (um dos primeiros filmes ao qual me levou!), que amava Carlos Saura.


Bem, como notaram, eu não quis citar minhas cabeçudices...filmes fiéis às suas obras literárias e ponto. Continuo em breve. Agora, vou acabar de ler "A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada", do Gabriel Garcia Marques, lindo e tristíssimo conto do realismo fantástico que, por sinal, também virou um filme ótimo do Ruy Guerra com Irene Papas e Cláudia Ohana, "Eréndira" (1983).

(rodrigo maroja barata - mai-2010).

sábado, 15 de maio de 2010

Sandmovies - filmes areentos

Brincava com um amigo e com os nomes de figuraças importantes do showbizzz, ríamos a valer: Jimmy Page virou Jaiminho Página, Billy Wilder era Wilsinho Fazedor de Selvagem, e tínhamos a Vanessa Túmulo Vermelho, o Roberto Planta, o Rogério Águas, o Wilson do P...Duro, a Égua do Presunto Vencedor, bem, era uma infinidade de nomes "ao pé da letra". Daí, desta infindável lista de bobagens, saíram os sandmovies, tudo por causa da Sandy, a quem chamávamos Areenta Franklin e Júnior, a dupla era assim para nós.

Sandmovies são filmes areentos, não por serem tediosos, não, mas por terem as areias de algum lugar ínóspito do mundo como protagonistas. Aqueles filmes, que mesmo sendo magistrais, dão-nos sede, ficamos de boca seca,mascando um Bubbaloo sabor Sahara.

O primeiro sandmovie listado em nossa memória, àquele tempo, meio aturdida pelos drinks, sempre fazíamos isso quando já altos de cerveja estávamos, foi "The English Patient" (1996), de Anthony Minghella, no qual as areias do Sri-Lanka são fundamentais para emoldurar o amor de Conde Laszlo Almasy (Ralph Fiennes, demais!), um misterioso e introspectivo aventureiro, por Katharine Clifton (Scott Thomas, imensa atriz!). Um melodrama areento de suprema beleza, mas que em suas 2 horas e tal nos deixa áridos.




Outro importante e grandioso sandmovie é "Zabriskie Point" ( 1970), de Michelangelo Antonioni, que se passa numa região do Parque Nacional do Vale da Morte, local de onde se extraía boro (minério que serve para uso da homeopatia e até na feitura de detergentes, desinfetantes, pesticidas, fertilizantes...) através da Cia. Do Vale da Morte. Os atores Mark Frechette e Daria Halprin, em sua primeira incursão no cinema, literalmente comem areia quando fazem amor e revolução. Filme lindíssimo com roteiro de Franco Rossetti, Tonino Guerra e Sam Sheppard a refletir sobre a contra-cultura nos EUA e os pensamentos comunistas e revolucionários dos jovens da época. O cenário é de badlands, areia e erosão. Sede!!!!





"The Sheltering Sky" (1990), de Bernardo Bertolucci, filme que tem uma Debra Winger e um John Malkovich em busca, nos desertos da África, de um significado para seus casamento e vida sexual em total tédios. A Película é um desbunde de secura e inocuidade. Dois burgueses, que nada têm a fazer, em busca de exotismo e semvergonice. É magistral, mas a gente fica até com a alma seca e desesperançosa ao vê-lo. Sandmovie de categoria!!! No entanto, vale deixar registrado que é um filme belíssimo em sua análise metalinguística, antropológica, sociológica e patológica, porque os protagonistas não regulam bem, ah, isto é fato!



Sandmovies são românticos, niilistas, neles, sempre alguém está à procura de outro alguém, são profundos, frios, tediosos, porém, epopeicos, em suma, são maravilhosamente areentos! Prometo! Não deixarei ninguém com sede! Postarei mais sobre Sandmovies. Amo-os todos, mesmo com suas intermináveis cenas desérticas...Listarei os 10 Sandmovies mais espetaculares e áridos do cinema, me aguardem com um gelado e cheio copo d'água!

(Rodrigo Maroja Barata Mai-2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lista dos 10 mais belos do cinema

Os 10 atores mais belos do Cinema e o melhor filme de cada:

1. Brando e "A streetcar named desire" (1951), de Elia Kazan


2. Newman e "Cat on a Hot Tin Roof" (1958), de Richard Brooks


3. Delon e "Rocco e i suoi fratelli" (1960), de Luchino Visconti


4. Beaty e "Splendor in the Grass" (1961), de Elia Kazan


5. Dean e "East of Eden" (1955), de Elia Kazan


6. Clift e "Suddenly, Last Summer" (1959), de Joseph L. Mankiewicz


7. De Niro e "Ranging Bull" (1980), de Martin Scorsese


8. Belmondo e "À bout de souffle" (1959), de Jean-Luc Godard


9. Fiennes e "The English Patient" (1996), de Anthony Minghella


10. Gosling e "The Believer" (2001), de Henry Bean

sábado, 8 de maio de 2010

Cinema e lágrimas desavergonhadas

Vontade de chorar? Tenho sempre! Pelas causas mais tolas, ainda mais quando, depois de tantas saudades impensadas...Bem, tenho cátedra em lágrimas, coisa de mestrado e doutorado em melancolia! E há algumas cenas de filmes que não dá para escondê-las, as tais lágrimas, é de se desfazer todo, coisa de, por favor, preparem vossos lençinhos!

Minha lembrança é um caco misterioso de um mosaico atemporal, por isso vou contar algumas vezes em que morri de vergonha e tive de sair de cabeça baixa do cinema, pois não contive minha tendência depressiva.

Fellini é o que mais me levou às lágrimas, nem sempre por compartilhar a tristeza de uns fotogramas, mas também por ser onírico e, por vezes, de uma nostalgia que chega a ser quase nossa. Quando Cabíria, ao cabo de suas desventuras de desamor, resolve entregar seu pobre coração vagabundo a um homem chamado Oscar D'Onofrio, que estava num show de variedades no qual ela é levada a um delírio hipnótico e conta sua vida em transe a uma plateia aos risos, eu queria entrar na tela e por aquela pobre mulher no colo.

O Homem sério e sereno a encanta, faz promessas; ela crê, vende tudo o que é seu e se despede da amiga de trampo e de vida (da vida?), enfim, de prostituta. Ela está feliz, radiante, mas ele acaba por se desmascarar e dá uns vários sopapos nela, que cai desmaiada. É furtada e humilhada. Nestas condições de total desesperança, sai vagando por uma estrada erma, quando uma trupe de jovens circunda Cabíria entre cantos e sorrisos. Aí vem a cena: Masina, aos poucos, vai retomando as forças e começa a parar de chorar, volta-se para a câmera e nos presenteia com o sorriso e o olhar mais ternos, doces, humildes e plenos do cinema. Chorei feito uma besta quadrada. Compulsivo, aquarianamente...chorei convulso e perene. Meu coração, a partir daquele segundo, era de Giullieta Masina. "Le notti di Cabiria" (1957), de Federico Fellini puxou meu tapete.



Quando o compositor Gustav von Aschenbach (interpretado magistralmente pelo imenso ator Dirk Bogarde), à beira da morte, devido à peste, maquia-se, veste-se elegantemente e senta à beira do mar, para admirar o perfil apolíneo e totalmente andrógino da beleza de Tadzio, paixão platônica avassaladora, e cai morto na espreguiçadeira com uma grossa gota de suor negro escorrendo, de seus cabelos pintados, pelo rosto pálido da decadência, meu(!)...de novo fui pego pela tristeza irremediável e me debulhei, chorei desavergonhadamente. "Morte a Venezia" (1974), de Luchino Visconti, baseado livremente na novela homônima de Thomas Mann, era a película que me expunha e me desnudava em pleno escurinho do cinema.



Tantas foram as cenas que não dá para enumerá-las em um post. "Amarcord" (1973), de Fellini, em sua cineautobiografia resgatando a infância numa Rimini nostálgica e onírica, ao som daquela trilha inesquecível de Nino Rotta, é choro (em meio a deliciosas gargalhadas) na certa, e em vários momentos; a solidão e a elegante decadência de Burt Lancaster em "Gruppo di famiglia in un interno" (1974), também de Visconti, são delicadamente amargas; o definhamento que leva à morte de Madame Bertini, em "La vieille dame indigne" (1965), de René Allio, ao ser interditada pelo filho, impedindo-a de realizar as viagens de carro sonhadas é de lanhar o coração, chorei sofregamente...e há mais uma porção imensurável de cenas, todas de marcar a ferro e brasa a pele mais encouraçada.



"Não tenho vergonha de dizer que estou triste", agora quintaneando (outro que me faz chorar!), não dessa tristeza dos que, em vez de se matarem, assistem, despidos de pudor, a lindos, melancólicos e terminais filmes...

(Rodrigo Maroja Barata Mai-2010)